Vez ou outra retorna o debate – na cúpula política dominante – sobre a divisão do Piauí, com a criação do Estado do Gurgueia, que tomaria a parte ao sul do mapa piauiense. A discussão sobre o Gurgueia foi retomada com mais força, neste momento, devido ao plebiscito aprovado no Congresso Nacional para que os eleitores paraenses decidam sobre a divisão ou não do Estado do Pará. Mas o que representa, de fato, e a quem atende a proposta de criação do Gurgueia?
O Estado do Gurgueia é uma proposta antiga defendida por oligarcas do Sul do Piauí. Ávidos pelo domínio direto e centralizado de uma estrutura burocrática (Governo, Assembleia Legislativa, Justiça) para favorecer diretamente a dominação coronelista de mais enriquecimento para algumas famílias, os oligarcas se apóiam no sincero sentimento de revolta popular da região. Sentimento esse alimentado pelo descaso histórico dos governos “do Norte” que não garantiram serviços públicos de boa qualidade, reforma agrária, distribuição de riquezas ao povo pobre e aos trabalhadores do Sul do Piauí.
De início, é importante respeitar e concordar com a opinião e o sentimento dos trabalhadores de todo o Piauí, de Norte a Sul, pelo estado de abandono vivido pela grande maioria dos piauienses. São milhões que não contam com o mínimo de estrutura estatal para a garantia de acesso a bons serviços públicos de saúde, educação, saneamento, eletrificação, abastecimento d’água, estradas, moradia, cultura e políticas de geração de emprego.
Todos estes problemas, no entanto, ao contrário do que se tem difundido, não são fruto da apenas da “incompetência” de governo A ou B. Na verdade, historicamente, os governos estaduais, desde o Piauí província até agora, têm sido bastante competentes em aplicar uma política de espólio de recursos naturais, endividamento público e desvios de verbas para a corrupção. Por isso, desde a origem, o Piauí foi dividido entre os ricos – que sempre usufruíram do aparato estatal, terras, isenções fiscais, financiamentos de projetos de “desenvolvimento” e corrupção – e a classe trabalhadora, que sempre pagou a conta das constantes crises financeiras do Estado, sem ter acesso às riquezas que produz.
Não é à toa que amargamos os piores índices de desenvolvimento social do país: quase metade da população vivendo na linha da pobreza, caos na saúde e na educação, violência no campo, reforma agrária que não anda, falta de saneamento básico e destruição do meio-ambiente. O quadro de miséria e de pobreza que encontramos no sul do Piauí também é encontrado nas demais regiões do Estado. A concentração de renda no Piauí é muito alta. Segundo o IBGE 73,52% da população piauiense recebe menos de dois salários mínimos. O Brasil já é a 7ª maior economia do mundo, no entanto, destinou, em 2010, 2,8% do orçamento para a educação, 3,9% para a saúde, 0,2% para reforma agrária. Já para o pagamento da dívida pública, destinou 46,7% do orçamento priorizando os bancos e grandes empresas. Da mesma forma, no Piauí, grande parte dos recursos públicos deixa de ser aplicada nos setores sociais para enriquecer os banqueiros, através do pagamento da dívida pública.
O problema do Brasil e do Piauí não se resolve criando mais Estados. A divisão de estados não é garantia para melhores condições de vida para os trabalhadores. Se o tamanho do Estado fosse sinônimo de elevados índices de desenvolvimento social e de competência administrativa, Alagoas e Sergipe, por exemplo, deveriam ser exemplos em âmbito nacional de atendimento às necessidades dos trabalhadores. E a realidade não é essa.
O fato é que nenhum governo, até o momento, de fato, governou para os trabalhadores e para os mais pobres no Piauí. Por isso, chega ao cúmulo do cinismo a posição de empresários e políticos ligados a partidos como o PT, PC do B, PMDB e outros que governaram o Estado, que estão agora à sombra do movimento “Piauí Unido”. Tais empresários e grupos políticos governaram o Piauí e contribuíram para aumentar desigualdades sociais de Norte a Sul, mas agora se apresentam como defensores de um Estado “Feliz por Inteiro”, contra a criação do Gurgueia.
Enquanto as nossas riquezas estiverem nas mãos de um punhado de capitalistas, não importa o tamanho do estado, a pobreza, a miséria e a violência continuarão imperando. Só com a reforma agrária, a estatização sob controle dos trabalhadores de nossas riquezas e empresas privatizadas e um programa de governo discutido e encaminhado sob controle dos trabalhadores é que teremos a solução para os principais problemas que afligem nossa classe. Só um governo socialista dos trabalhadores poderá garantir emprego, educação, saúde de qualidade e salário digno para todos. Por isso, dizemos não à criação do Gurgueia, ao mesmo tempo em que condenamos o cinismo dos empresários e dos parlamentares que se escondem sob a bandeira do “Piauí Unido” para continuarem dominando e dividindo o Estado entre ricos e pobres.
Por um Piauí socialista, governado pelos/as trabalhador
Teresina, 11 de novembro de 2011.
Direção Estadual do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - PSTU/PI
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