sexta-feira, 2 de agosto de 2013

RAP de “A Irmandade” nos faz perguntar: Amarildo tem quantos irmãos em Teresina?

Por Daniel Solon, militante do PSTU



A polêmica recente sobre a letra “Ira”, do grupo de rap “A irmandade”, trouxe à tona o debate sobre como a polícia (militar ou civil) age contra negros e pobres moradores da periferia de Teresina. 

Longe de ser apenas um desabafo do rapper Preto Kedé, que afirma ter sofrido na pele até agressões físicas em baculejos (abordagens de revista policial) pelo Rone (agrupamento de rondas da PM), a música denuncia, na verdade, o cotidiano de violência e truculência vivido pela juventude pobre, seja “na quebrada” ou “no asfalto”, em todo o país.

Depois de ganhar as mídias sociais, o rap acabou recebendo espaço repentino em canais de TV, jornais e emissoras de rádio locais, que trataram, em grande maioria, de retratar a música “Ira” como ameaça pessoal aos comandantes do Rone (Avelar e Abreu), citados na letra. “Criminosos fazem rap ameaçando policiais do Rone” foi uma das manchetes na mídia local.

A criminalização da pobreza e do povo negro não é novidade. Faz parte inclusive do caráter racista e fascista dos aparelhos de repressão estatal que agem autoritariamente. E, não raro, como denuncia “Ira”, há “bandidos fardados” que estão envolvidos em “esquadrões da morte”, em sumiços de pessoas tidas como suspeitas. O caso do pedreiro Amarildo, morador da favela Rocinha (Rio de Janeiro), é prova disso. Ele desapareceu depois de ter sido levado por policiais, para depoimento. Devido às mobilizações populares, que questionam “Onde está Amarildo?”, estão sendo questionados, em escala internacional, os métodos da PM, ainda impregnada do que foi a ditadura militar.

Nas manifestações populares recentes, seja em Teresina, ou em São Paulo, a violência policial mostra o mesmo ranço autoritário. Por essas e outras que até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) prega o fim da PM.

A população precisa de segurança pública. Isso é fato. Mas precisamos desta polícia tal qual a conhecemos hoje? A PM não tem conserto. É preciso extingui-la. No lugar dela, uma polícia desmilitarizada, controlada diretamente pela população e pela classe trabalhadora, com chefes que devem ser eleitos diretamente.

“Ira” mostra a vida da juventude favelada, acostumada a ver muitas viaturas policiais atrás de suspeitos, “quase todos pretos”, como Amarildo e Kedé, diria Caetano Veloso. O rap constata que para as “blazers” da PM, os buracos, grotões e lamaçais não são problema. Pena que nas quebradas não chegam ônibus escolares, caminhões de lixo e ambulâncias.

É preciso garantir plena liberdade de expressão à juventude, seja ela do movimento Hip Hop ou não. É preocupante como “A Irmandade” vem sendo tratada também no perfil de facebook do Rone. Quando um internauta afirmou que o grupo iria ficar famoso, o “Rone” respondeu: “na cadeia”.

Vou repetir aqui o que escrevi no twitter: Salvem o RAP e a juventude da periferia de Teresina. Se depender do Rone, só terá R.I.P*...

R.I.P: do inglês, Rest in peace, ou simplesmente “Descanse em Paz”